google.com, pub-0226795176202024, DIRECT, f08c47fec0942fa0 Dunkirk: Desespero, companheirismo e esperança - Marcos Bossolon

sábado, 3 de março de 2018

Dunkirk: Desespero, companheirismo e esperança


Como roteirista, é difícil apreciar um filme não linear, talvez até confuso, sem uma história padrão como costumamos ver, com poucos diálogos e personagens sem profundidade. Mas, me surpreendi com o fato de eu ter gostado muito de Dunkirk, escrito e dirigido por Christopher Nolan.



Sinopse
Durante a Segunda Guerra Mundial, milhares de soldados das forças aliadas são encurralados pelo inimigo nas praias de Dunkirk enquanto uma arriscada operação de evacuação utilizando barcos de civis é realizada.

Três linhas temporais eu se cruzam

Talvez a principal característica observada em Dunkirk seja a opção de Nolan em narrar a operação em três linhas temporais diferentes: uma semana acompanhando os soldados na praia de Dunkirk, Um dia acompanhando os barcos de civis resgatando os soldados e uma hora acompanhando os pilotos que dão suporte aéreo à operação. Consequentemente essas histórias se cruzam, tendo momentos em que vemos o mesmo incidente de perspectivas diferentes.

Essa opção narrativa diferenciada nos passa uma sensação de que estamos montando um quebra-cabeças enquanto assistimos ao filme. Quando acompanhamos os pilotos, vemos apenas a ultima hora da operação. Então quando vemos o mesmo momento da perspectiva dos soldados ou da família de civis resgatando-os, entendemos melhor o que já havíamos visto alguns momentos atrás.


Para alguns isso foi algo desnecessário, já que Nolan podia narrar tudo cronologicamente. Mas, em particular, essa opção foi o que tornou o filme diferente em relação a tantos outros filmes sobre a guerra.

Um fato interessante é que talvez valha a pena assistir também “O destino de uma nação”, outro filme concorrendo ao Oscar que narra os bastidores da operação em Dunkirk, tornando-se até uma quarta linha temporal permitindo um novo ângulo sobre os eventos.

Falta de diálogo e negligência com os personagens

Isso foi algo bem criticado por diversos críticos de cinema. Diferente de outros filmes de Nolan, em Dunkirk o diretor optou por uma perspectiva minimalista, com poucos diálogos. Mas, ao contrário do que comentamos no artigo sobre “Me chame pelo seu nome”, a ausência de diálogos em Dunkirk não tem intenção de valorizar a linguagem corporal e isso é o que torna ainda mais confuso em relação ao motivo da ausência de diálogos.

Essa ausência de diálogos impede de nos aprofundarmos nos personagens e dificulta criar empatia com eles. Mesmo os protagonistas não criam laços com o público suficiente para nos sentirmos abalados caso algum deles morresse.


Para muitos isso representa negligência. Afinal, não se conta uma história sem protagonistas e em Dunkirk não sentimos que temos um protagonista. Ao invés disso parece que estamos acompanhando a história na perspectiva de qualquer um ali no meio. Tanto que, com algumas exceções, nem sabemos os nomes de alguns personagens ou, mesmo aqueles que são apresentados, esquecemos logo qual é seu nome ao longo do filme.

 Mas creio que essa idéia foi proposital, afinal erma mais de 300 mil soldados e criar personagens com um backstory bem elaborado seria ignorar todo o resto de homens que não compartilham da mesma história. Não aprofundando propositalmente nos personagens, tornando-os genéricos, significa que aquele personagem pode ser qualquer um daqueles milhares de soldados, representando todos em um grupo pequeno.

Sensação de desespero

Assim como em “Trama fantasma” é impossível não notar o belo trabalho na trilha sonora de Dunkirk. Na verdade todas as cenas junto com a trilha sonora combinam perfeitamente para passar ao espectador a sensação de desespero. A sequencia de eventos, mostram que os personagens na praia de Dunkirk estão em constante perigo.


Mesmo não nos apegando aos personagens genéricos, sentimos o desespero dos personagens em momentos tensos, como quando eles estão dentro de um navio com buracos de bala e precisam tapar os buracos para não afundarem, mas tem medo de levarem um tiro a qualquer momento. Ou em uma das várias vezes em que os navios estão afundando e eles lutam para não morrerem afogados.

Um filme que narra eventos e não uma história

Em termos gerais, Dunkirk não narra uma história propriamente dita. Não vemos um arco de personagens, nem transformação dos mesmos. Não temos uma mensagem forte ou lição de vida. E, se não fosse a oção por narrar em três linhas temporais, a trama é bem rasa.

Contudo, Dunkirk não se preocupa em narrar uma história, mas uma sequencia de eventos que convergem para o mesmo ponto: o resgate de mais de 300 mil soldados encurralados em Dunkirk.

Talvez Dunkirk não leve o Oscar de melhor filme, mas é um ótimo filme de guerra para quem procura uma experiência diferente no cinema. Dunkirk está concorrendo a seis categorias no Oscar desse ano e está disponível para ser alugado no Net Now.



Nenhum comentário:

Postar um comentário