Tive a
oportunidade de assistir à pré-estreia exclusiva de Bright na Comic Con desse
ano, seguido por uma entrevista com o diretor David Ayer, Will Smith e Joel
Edgerton. Provavelmente vários sites e críticos estão falando mal do filme
atualmente e eu não duvido. Mas particularmente é um filme que apreciei muito
exatamente por que ele une uma ideia muito boa com criticas sociais atuais.
Segundo a
sinopse oficial o filme se passa em um mundo futurista onde seres humanos
convivem em harmonia com seres fantásticos como fadas e ogros. Mesmo nesse
cenário, infrações da lei acontecem e um policial humano (Will Smith)
especializado em crimes mágicos é obrigado a trabalhar com um orc (Joel
Edgerton) para evitar que uma poderosa arma caia nas mãos erradas.
A
concepção da ideia me encantou logo de inicio. Imaginar um mundo com seres fantásticos
em uma realidade próxima da nossa pode não ser a ideia mais original do mundo,
mas foi bem aplicada. Como o próprio David Ayer mencionou durante a entrevista
na Comic Com, esse filme é uma mistura de “Senhor dos Anéis” com “Dia de
treinamento”.
Nesse
mundo de Bridght existem elfos, orcs e humanos convivendo em “harmonia”. No
entanto existem alguns seres denominados Brights, os quais são os únicos que
podem tocar em uma varinha sem explodirem. Vale lembrar que varinhas são
objetos raros e extremamente poderosos no universo de Brigh, o que as tornam
extremamente desejadas também.
Com as
noções básicas do mundo estabelecidas é possível falar sobre a crítica social
que o filme traz. Em Bright, os orcs são marginalizados pois há dois mil anos
atrás serviram ao Senhor das trevas. Apesar do senhor das trevas ter sido
destruído e os orcs serem cidadãos comuns hoje em dia, ainda são marginalizados
e vistos como servos do mal pela maioria dos seres.
Em meio a
esse sistema, Daryl Ward (Will Smith) recebe a indesejável tarefa de ser
parceiro do primeiro policial orc Nick Jakoby (Joel Edgerton). Ao longo do filme essa parceria é
semelhante á de outros filmes policiais em que um policial branco tem de
trabalhar com um policial negro. No entanto, dessa vez Will Smith é como se fizesse
o papel do policial racista no filme. O racismo do filme não está na cor do
indivíduo, mas na sua raça. Nick é visto como um marginal pelos colegas de
trabalho e um traidor pelos outros orcs.
Outra crítica
que o filme faz sobre as questões sociais é em relação a classe alta. Em
Bright, os elfos são como a classe alta da nossa sociedade. Considerados incorruptíveis,
mesmo sabendo que existem corruptos entre eles. Quando o agente elfo da Dorça-Tarefa
dos magos (uma espécie de FBI de bright) está interrogando um sacerdote de uma
sociedade secreta, o suspeito menciona que aqueles que estão tentando trazer o
senhor das trevas de volta não são os orcs, mas sim os elfos. O agente logo
corrige dizendo que são elfos renegados e a resposta do suspeito é que “vocês
elfos são o máximo”. Isso é um paralelo com a alta classe da nossa sociedade em
que os privilegiados, quando cometem algum crime são considerados exceção
enquanto os marginalizados são considerados o comum.
Assim como
na nossa sociedade, os negros e pobres são todos considerados escória por causa
de poucos, os orcs estão na mesma situação. Enquanto isso, os ricos e
privilegiados são considerados exemplo, mesmo diante de muitos crimes cometidos
por eles, assim como os elfos.Isso é uma grande sacada em Bright,
principalmente quando percebemos que os verdadeiros vilões são todos elfos,
mesmo que alguns humanos e orcs fiquem no caminho dos heróis, posteriormente os
orcs se provam honestos. Na verdade, o grupo de orcs são os únicos que se
redimem enquanto os elfos são os vilões e os policiais humanos se corrompem.
A história
O primeiro
ato é voltado quase que inteiramente sobre a questão racial do filme. Os conflitos
entre orcs e humanos é o mais presente. Logo no inicio do filme Ward é baleado por
um orc e Nick o deixa escapar, fato que cria alguns conflitos internos durante
algum tempo. Os policiais pegam pesado com Nick, deixando claro que não gostam
do orc. A certo ponto até vemos uma questão moral sendo colocada quando a
corregedoria oferece um bom dinheiro para que Ward consiga uma confissão de
Nick par aincriminá-lo, mas essa trama que poderia ser muito bem explorada ao
longo do fime é completamente esquecida antes mesmo do fim do primeiro ato.
O segundo
ato muda completamente o rumo da história, seguindo um foco mais fantasioso. Praticamente
toda a trama gira em torno de uma varinha, objeto raro e poderosso. A dupla de
policiais recebe um chamado e resgatam uma elfa, Tikka, em posse de uma varinha
magica. Logo em seguida vemos a corrupção de um grupo de policiais ameaçando
matar Ward e Nick para ficarem com a varinha. Nesse momento vemos a fidelidade entre
os parceiros, típica de filmes de policiais, quando Ward mata os policiais
corruptos salvando ele e Nick. Os dois iniciam sua jornada o herói ao lado de Tikka
para proteger a varinha de praticamente todo mundo que a quer, incluindo gangue
de humanos, orcs e os elfos malignos.
O terceiro
ato não traz nenhuma revelação que já não tenhamos imaginado desde o começo do
filme. É como se ao longo do filme vários eventos já indicassem o que iria
acontecer. Sendo assim, não causa nenhuma surpresa com os acontecimentos do clímax
no confronto final. Mas é interessante notar como o respeito dos policiais
crescem um pelo outro, em especial de Ward com Nick.
No geral o
roteiro é simples e previsível, o que não significa necessariamente ruim, mas
muitos podem encará-lo como fraco e raso. O filme traz algumas criticas sociais
legais sobre racismo e preconceito racial. É um filme típico de policiais dos
anos 80 e 90. O arco dos personagens principais é interessante e os
protagonistas, principalmente Nick Jakoby, são carismáticos. Além da critica
social o filme deixa bem explicito que o orc marginalizado por todos é o
personagem com melhor caráter e de bom coração. Ou seja, a ideia de que o mais
menosprezado é o mais justo e honrado.
O roteiro
é raso e deixa escapar muitas possibilidades de uma trama mais pesada, como a
integridade de Ward ao entregar o parceiro (como dito anteriormente) ou um
possível questionamento sobre a natureza do ser humano quando tem poder em suas
mãos. Apesar da simplicidade e roteiro raso e previsível, cumpre seu papel de
entretenimento e faz uma boa critica à divisão de classes e preconceito
presente na sociedade. Sem contar as atuações de Will Smith e Joel Edgerton que
dão pontos a mais para o filme.
Bright
estreou dia 22 de Dezembro na Netflix.
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