google.com, pub-0226795176202024, DIRECT, f08c47fec0942fa0 O dia em que alguém conseguiu me dar um abraço - Marcos Bossolon

quinta-feira, 4 de maio de 2017

O dia em que alguém conseguiu me dar um abraço

Eu sempre fui esse cara que não se aproxima muito das pessoas. Eu não sou acostumado a abraços e toda vez que a mão de alguém se aproxima de qualquer parte do meu corpo eu pulo de reflexo. Sinto muita cocegas e sempre que alguém faz algum movimento brusco do meu lado ou sequer vai me dar um cutucão amistoso ou algo do tipo, meu corpo se contrai como se aquilo fosse uma ameaça. Algumas pessoas até ficavam frustradas ou tristes comigo por causa disso. Porque, de certa forma parecia que eu não confiava na pessoa.


Muito disso se deve ao fato de eu ter aflição de umbigo. Sim. Eu tenho aflição de umbigo. E é horrível. E por isso todos meus amigos insistem em cutucar meu umbigo. Sempre que conheço uma pessoa nova, tudo vai bem. Até que algum amigo diz a essa pessoa minha aflição e de repente todo mundo está me cutucando e fazendo cocegas de novo. Para você ter uma ideia de quanto isso é horrível, imagina se, por exemplo você tenha aflição de alguém passando a unha numa lousa (muitas pessoas tem pavor disso). E quando você vai cumprimentar um amigo ele tira uma lousa do bolso e começa a passar a unha só para rir da sua reação. Era isso em TODAS as reuniões de amigos!
Você pode imaginar o quão difícil era para um médico fazer algum exame em que tinha que tocar minha barriga, por exemplo? Era uma experiencia terrível. Quando eu era pequeno, meus pais e tios tinham que me segurar para o médico poder fazer o exame, pois eu não parava de me contorcer. Até hoje é assim, na verdade.
Eu estava num acampamento da igreja, na equipe de trabalho. Nós ficávamos acordados das 7 da manhã, trabalhávamos na cozinha o dia todo e íamos dormir à meia noite. Foi intenso e magico! Nós aprendemos tanto e ficamos tão próximos uns dos outros. No ultimo dia da semana (era um acampamento de uma semana de duração) essa pessoa veio ate mim e disse que queria me dar um abraço.
_ Sem chances! _ eu disse _Ninguém jamais chegou perto da minha barriga. Imagina me dar um abraço. Eu vou pular!
_ Calma! _ ela disse _Eu vou devagar.
Então ela abre seus braços e vem até minha direção. Muito, muito devagar… Ela se aproxima mais e mais. E lentamente, ela fecha seus braços e me da um abraço. Um abraço forte. Então eu faço o mesmo. E nós ficamos la por alguns segundos. Alguns grandes segundos, abraçando um ao outro. E foi uma das melhores experiências da minha vida! Eu nunca me senti tão relaxado quanto naquela vez!
Naquele dia, eu percebi que havia um jeito de se aproximar de mim. Havia um jeito de me tocar e meu corpo não reagiria como uma ameaça. Naquele dia eu descobri que eu AMO ser abraçado.
Sabe o que eu percebi? Ao logo do resto daquele acampamento, meu corpo nunca mais teve aquele reflexo quanto aos movimentos dessa pessoa. E mesmo quando eu a encontro casualmente nos outros acampamentos, mesmo nós não conversando muito, meu corpo fica mais relaxado. É como se meu cérebro mandasse um sinal: Essa pessoa não é uma ameaça.
Eu ainda dou pulos quando a mão de alguém faz um movimento brusco perto de mim. Eu ainda sou um cara distante das pessoas. Enquanto meu corpo entender que você pode ser uma ameaça, ele ainda vai reagir. Ainda estou trabalhando nisso, eu sinto muito se isso te chateia. Mas ouça o que digo. Se você quiser se aproximar de mim. Se quiser me abraçar. Saiba que eu sou peculiar quanto a isso. Para eu não me sentir ameaçado, por favor, seja paciente e venha me dar um abraço. Mas eu não vou te dizer para fazer isso. Você terá de vir até mim bem… bem devagar.

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