Na semana passada saiu a
lista dos indicados ao Oscar de 2018. Como um aspirante a roteirista, resolvi
estudar o roteiro dos indicados ao Oscar desse ano, em especial os indicados a
melhor roteiro e melhor roteiro adaptado e dedicar os próximos posts desse
humilde blog a esses filmes. É um exercício de aprendizado que quero
compartilhar com vocês. Dessa forma eu me esforço para aprender mais e fixar
melhor o que aprendo.
Decidi começar por um dos filmes de super-herois mais elogiados dos últimos anos, ou talvez da história: Logan, escrito por James Mangold, Scott Frank e Michael Green. Quando digo que o filme é um dos mais elogiados, não é apenas minha opinião. Logan teve aprovação de 93% no Rotten tomatoes e 8.1 estrelas no IMDB, além de outras avaliações positivas em diversos sites do tema.
Tentarei falar um pouco
do filme e sobre as primeiras páginas do roteiro, mostrando o que gostei e
aprendi quando li o mesmo.
Caso tenha interesse, você pode baixar o roteiro de "Logan" clicando aqui
Caso tenha interesse, você pode baixar o roteiro de "Logan" clicando aqui
Sinopse
Em um futuro próximo os
mutantes, ou a maioria deles, estão extintos. O velho e alcoólatra Logan faz o
que pode para cuidar do doente professor Xavier escondido em algum lugar na
fronteira com o México. Contudo, seu esconderijo e tentativa de esquecer os
dias passado vão a ruinas quando eles precisam proteger e transportar Laura,
uma jovem mutante com poderes semelhantes ao Wolverine, que está sendo
perseguida por uma organização perigosa.
As primeiras páginas de Logan.
Na primeira página do
roteiro (primeiro minuto do filme) somos apresentados ao herói. Vemos uma limusine
estacionada na estrada quando uma van com alguns ladrões para. Os bandidos logo
começam a operação para roubar as partes caras da limusine.
Então vemos, no interior
da limusie, LOGAN acordando com o incidente. Há garrafas vazias e embalagens de
comidas de fast food espalhadas pelo chão.
Logan sai do carro e, ao
ver os bandidos agindo diz:
LOGAN
...Uh. Por favor parem, pessoal. Esses parafusos são cromados.
...Uh. Por favor parem, pessoal. Esses parafusos são cromados.
Ele tenta explicar que o
carro é alugado e as pessoas não pagarão para andar se estiver danificado, mas é
interrompido por um tiro de um dos ladrões. Nesse momento do roteiro o autor
dedica alguns parágrafos para explicar sobre as lutas e a violência do filme.
Bem como explicar sobre as habilidades de Logan e que ele já não é mais o
mesmo. No entanto, não é preciso ler essa parte do roteiro para perceber isso.
Na cena, quando Logan se
levanta após o tiro, aqueles que não sabem sobre sua habilidade logo percebem
que ele não é comum. Ao tirar suas garras, que saem lentamente, percebemos que
ele já não é mais o mesmo.
Em seguida o vemos
apanhando muito do grupo de inimigos enquanto faz o possível para proteger a
limusine. Até o momento em que um tiro acerta acidentalmente o veículo e vemos
Logan em fúria.
Isso é uma ótima forma de
apresentar o herói ao público. Temos muitas informações em apenas duas ou três
páginas do roteiro.
O estado decadente de
Logan dormindo embriagado no banco de trás da limusine acompanhado de bebidas e
fast food mostram como sua vida anda miserável.
Ao sobreviver do tiro
vemos que ele não é um humano qualquer. Além das garras lentas, o fato de Logan,
que já enfrentou os mutantes e vilões mais poderosos dos x-men e até exércitos
inteiros, apanhar para um bando de ladrões de quinta categoria mostra o quão
enfraquecidos estão seus poderes. Ao mesmo tempo vemos, em seguida sua fúria de
sempre ao esquartejar a maioria dos inimigos.
Mas o que mais me chama a
atenção são as primeiras falas de Logan. Ele tenta ser amigável, pedindo com
educação para que os bandidos parem. Ele tenta dialogar. Isso é algo que não é
comum de se ver no personagem em outros filmes. E isso mostra o quão diferente
Logan está neste longa.
Ao longo do filme vemos
mais evidencias disso. Por exemplo, quando Caliban comenta com Logan que os
buracos de bala em seu peito não estão cicatrizando ou que ele não consegue nem
ler o nome de um remédio. Fica cada vez mais obvio para o público que Logan
está morrendo.
Uma história sobre pessoas e não sobre super-heróis.
Logan se destacou por não
ser apenas um filme de super-heróis, mas um road movie trazendo um drama
familiar impactante. Com uma historia que muitos compararam ao game “The last
of us”, Logan e Laura, conhecida como x23, vão desenvolvendo um relacionamento
fraternal durante a viagem até a segurança da jovem mutante. Ao invés de
apostar em super-vilões, poderes mirabolantes e ação do começo ao fim, Logan
apostou no drama e o resultado agradou tanto a fãs dos quadrinhos como aqueles
que nem gostam do gênero de super-heróis.
Um dos motivos do publico
se identificar tanto com o filme é por que Logan não conta a história sobre
super-herois. Logan tem problemas humanos. Ele tem que ganhar dinheiro para
comprar remédios para um homem doente. Quer comprar um barco e tenta inutilmente
negociar um preço menor. Apesar dos poderes, vemos em Logan um ser humano comum.
O filme conta a história
sobre pessoas. Mostra um homem angustiado com a vida, depressivo e sem
esperanças e uma garota perdida, jovem e que precisa não só de proteção, mas de
orientação fraternal. No filme, Laura é aquela que resgata a humanidade de Logan,
fazendo nascer novamente esperança em um homem angustiado. E isso é o que atrai
o carinho de muitos de nós. É um filme que fala sobre as coisas mais
importantes para seres humanos: relacionamentos.
É muito comum storytellers
seguirem a risca, mesmo que sem querer, a jornada do herói: Alguém em sua
rotina, tem um chamado para aventura, passa pela aventura, algumas coisas dão
erradas, ele enfrenta as dificuldades e conquista a vitória, diferente de como
começou. Mas muitos esquecem de dar humanidade aos seus personagens. Na grande
maioria são pessoas com um destino especial. Escolhido dos deuses. São
histórias legais, mas difícil de se identificar com pessoas comuns.
Já em Logan, vemos também
essa jornada do herói bem nítida. Mas ao invés de focar na ideia de que o
protagonista tem um destino, trabalha na humanidade do herói. A verdadeira
jornada do herói de Logan é a busca por uma humanidade. E isso é algo que tem
um efeito muito maior para quem acompanha a trajetória do herói nos filmes dos
x-men. Como vemos no diálogo entre Logan e o professor Xavier:
CHARLES (CONT’D)
Quando eu
te encontrei, você tentava fazer carreira
lutando em gaiolas
lutando em gaiolas
LOGAN
Não estou
com o humor para histórias de dormir.
CHARLES
Um disfarce
para uma vida de assassino, viciado em barbitúricos.
(Sorri, sombrio)
Você era
um animal, mas nós o acolhemos. Eu te dei uma família
Logan foi apresentado no
primeiro filme dos x-men como uma fera. Um animal selvagem. No filme de sua origem, vemos como ele foi,
muitas vezes tratado como uma arma. Através da convivência com os x-men, Logan
foi deixando de ser uma besta selvagem. Mas em “Logan” os x-men se foram. Ele
está perdido. Não é mais um animal, nem uma arma. Mas perdeu sua humanidade que
tinha na família que o acolheu.
Através de Laura, que
também foi criada como uma arma, Logan recupera sua humanidade. E morre como um
humano. O que nos leva a um belo final para sua saga ao longo de todos os
filmes e sua mensagem para Laura: “Não seja o que fizeram de você”. Durante quase
sua vida inteira, Logan foi exatamente o que fizeram dele: Uma fera, uma arma,
um assassino... E Laura que, no inicio de sua vida foi tratada como arma recebe
esse conselho para que ela leve uma vida diferente da que Volwerine levou.
Logan não é só um filme de super-herói. É um filme que narra um relacionamento entre pai e filha e a busca de um homem pela sua humanidade. E em “Logan” nosso herói conclui essa busca após diversas tentativas de buscar essa humanidade ao longo dos filmes anteriores da franquia.
"Logan" está concorrendo ao Oscar de melhor roteiro adaptado. Caso tenha interesse você pode baixar o roteiro de Logan clicando aqui.
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