google.com, pub-0226795176202024, DIRECT, f08c47fec0942fa0 Clássico da semana: Taxi Driver - Marcos Bossolon

segunda-feira, 10 de setembro de 2018

Clássico da semana: Taxi Driver

A partir de hoje, toda segunda tentarei trazer algum clássico do cinema. Filmes que marcaram tão profundamente que entraram para a história. Decidi começar então por um dos filmes mais aclamados dirigido por Martin Scorsese e escrito por Paul Schrader: Taxi Driver.



Sinopse

Travis Bickle (Robert De Niro) é um veterano de guerra que, por não conseguir dormir passa a trabalhar como motorista de taxi noturno, rodando pelos piores lugares de Nova York. Ao longo de suas corridas cresce em Travis um sentimento de revolta pela miséria, vicio, violência e prostituição que o cerca. Depois de ser rejeitado pela bela Betsy (Cybill Sheperd), Travis se afunda cada vez mais em sua loucura ao mesmo tempo que nutre uma obsessão por salvar uma prostituta de 12 anos (Jodie Foster) de seu cafetão (Harvey Keitel).

Solidão, raiva e insanidade

Em Taxi Driver, Paul Schrader retrata os problemas que uma vida solitária pode trazer a um ser humano. Travis Bickle traz de seu passado misterioso uma experiencia adquirida na marinha. Ele é bonito, mas não é muito inteligente, algo que se torna mais prejudicial conforme ele se isola do mundo real. Ele é um homem solitário. Tão solitário que a maior parte das falas do personagem é dele falando sozinho, narrando sua história como se fosse um diário.

Travis começa a trabalhar como taxista por que ele não consegue dormir e por ser um veterano, não se importa de ir aos lugares mais sombrios e perigosos de Nova York. Nessa sua vida solitária de taxista Schrader retrata o lado negro de Nova York dos anos 70: As drogas, a prostituição, a violência e a solidão.  O isolamento da sociedade juntamente com o ambiente que frequenta faz com que Travis alimente uma raiva da sociedade como um todo. Ele vive esperando o dia em que “uma chuva limpará das ruas toda essa escória”.

Nesse momento ele conhece Betsy, uma bela loira que trabalha na campanha de um senador. Para Travis Betsy é “um anjo da pureza não contaminado pela sujeira da cidade”. Eles saem algumas vezes, mas Travis é conturbado e não entende de mulheres. Ele acaba levando-a para assistir um filme pornográfico no cinema, afastando completamente Betsy dele. Travis tenta se reaproximar, mas é friamente rejeitado pela dama.



Esse é o primeiro ponto de virada no filme. A rejeição de Betsy apenas aumenta a raiva em Travis. A imagem de seu anjo da pureza cai por terra e ele se convence que todos nessa cidade são frios e distantes. Se Betsy era seu único contato humano ao qual ele agarrava a uma esperança de que ainda existia alguém bom nessa cidade, agora ele a transforma em uma espécie de antagonista, convencendo-o de que ninguém vale a pena.

Travis compra armas e passa a malhar, deixando de lado sua vida sedentária. A partir desse momento ele se afunda cada vez mais em sua depressão, melancolia e insanidade a medida que passa a tramar um assassinado ao senador para o qual Betsy trabalha.

Logo após a rejeição Travis esbarra com Iris, uma jovem prostituta de 12 anos. Desde então, salvá-la passa a ser o objetivo de Travis. Sua vida vazia e sem objetivos faz com que ele se agarre à raiva e à vontade de salvar uma garota.



Travis é um herói?

O final é sem dúvidas a melhor parte do filme. Portanto, se você não quiser spoilers aconselho ler o resto da matéria após assistir a Taxi Driver.

No final do filme aparentemente Travis realiza um ato heroico. Depois de fracassar em sua tentativa de assassinato, o taxista invade o bordel onde Iris vive atirando em todos ali dentro para salvá-la. Mesmo gravemente ferido, seu objetivo é realizado. Os cafetões estão mortos e Iris é resgatada.

Na verdade, o ato heroico de Travis tinha como objetivo maior saciar sua raiva em um ato suicida do que de fato ser um herói para a sociedade. Ele inclusive tenta cometer suicídio, mas sua arma já está sem balas. Apesar disso ele se torna um pouco essa “chuva que lavaria das ruas toda essa escória”.

A sociedade se apropria do tiroteio no prostibulo, transformando a fúria suicida de Travis em um ato de heroísmo. Já na década de 70 Schrader já apontava que a sociedade é propícia a encarar violência desnecessária como atos heroicos (o que até hoje vemos presentes em discursos políticos nas redes sociais).

Até mesmo Betsy, que rejeitara Travis volta a se encontrar com ele. E nesse momento vemos claramente o desenvolvimento do personagem. Ele não trata Betsy como tratava antes. Ele está mais seguro de si. Mais maduro.



Em Taxi Driver Paul Schrader faz uma leitura do espírito humano diante da solidão. Além de mostrar o quanto a solidão pode ser prejudicial ele também mostra que Travis estava, em partes, certo sobre a sociedade. Ao consagrá-lo como herói, Schrader também mostra que Travis não era o único que nutria um sentimento de repulsa pela escória. Mas tudo isso já vinha sendo trabalhado entre os passageiros que Travis levava em seu taxi. Talvez qualquer um da sociedade que se isole como Travis se isolou pode ter um comportamento semelhante.

Taxi Driber é uma reflexão sobre a solidão, nos colocando na perspectiva de um homem solitário explorando a degradação de sua alma em primeira pessoa. É um filme pesado, conturbado, mas também um clássico dos anos 70 e considerado um dos melhores filmes de todos os tempos.


Nenhum comentário:

Postar um comentário