A partir de hoje,
toda segunda tentarei trazer algum clássico do cinema. Filmes que marcaram tão
profundamente que entraram para a história. Decidi começar então por um dos
filmes mais aclamados dirigido por Martin Scorsese e escrito por Paul Schrader:
Taxi Driver.
Sinopse
Travis Bickle
(Robert De Niro) é um veterano de guerra que, por não conseguir dormir passa a
trabalhar como motorista de taxi noturno, rodando pelos piores lugares de Nova
York. Ao longo de suas corridas cresce em Travis um sentimento de revolta pela
miséria, vicio, violência e prostituição que o cerca. Depois de ser rejeitado
pela bela Betsy (Cybill Sheperd), Travis se afunda cada vez mais em sua loucura
ao mesmo tempo que nutre uma obsessão por salvar uma prostituta de 12 anos
(Jodie Foster) de seu cafetão (Harvey Keitel).
Solidão, raiva e insanidade
Em Taxi Driver,
Paul Schrader retrata os problemas que uma vida solitária pode trazer a um ser
humano. Travis Bickle traz de seu passado misterioso uma experiencia adquirida
na marinha. Ele é bonito, mas não é muito inteligente, algo que se torna mais
prejudicial conforme ele se isola do mundo real. Ele é um homem solitário. Tão
solitário que a maior parte das falas do personagem é dele falando sozinho,
narrando sua história como se fosse um diário.
Travis começa a
trabalhar como taxista por que ele não consegue dormir e por ser um veterano,
não se importa de ir aos lugares mais sombrios e perigosos de Nova York. Nessa
sua vida solitária de taxista Schrader retrata o lado negro de Nova York dos
anos 70: As drogas, a prostituição, a violência e a solidão. O isolamento da sociedade juntamente com o
ambiente que frequenta faz com que Travis alimente uma raiva da sociedade como
um todo. Ele vive esperando o dia em que “uma chuva limpará das ruas toda essa
escória”.
Nesse momento ele
conhece Betsy, uma bela loira que trabalha na campanha de um senador. Para
Travis Betsy é “um anjo da pureza não contaminado pela sujeira da cidade”. Eles
saem algumas vezes, mas Travis é conturbado e não entende de mulheres. Ele
acaba levando-a para assistir um filme pornográfico no cinema, afastando
completamente Betsy dele. Travis tenta se reaproximar, mas é friamente
rejeitado pela dama.
Esse é o primeiro
ponto de virada no filme. A rejeição de Betsy apenas aumenta a raiva em Travis.
A imagem de seu anjo da pureza cai por terra e ele se convence que todos nessa
cidade são frios e distantes. Se Betsy era seu único contato humano ao qual ele
agarrava a uma esperança de que ainda existia alguém bom nessa cidade, agora
ele a transforma em uma espécie de antagonista, convencendo-o de que ninguém
vale a pena.
Travis compra
armas e passa a malhar, deixando de lado sua vida sedentária. A partir desse
momento ele se afunda cada vez mais em sua depressão, melancolia e insanidade a
medida que passa a tramar um assassinado ao senador para o qual Betsy trabalha.
Logo após a
rejeição Travis esbarra com Iris, uma jovem prostituta de 12 anos. Desde então,
salvá-la passa a ser o objetivo de Travis. Sua vida vazia e sem objetivos faz
com que ele se agarre à raiva e à vontade de salvar uma garota.
Travis é um herói?
O final é sem
dúvidas a melhor parte do filme. Portanto, se você não quiser spoilers
aconselho ler o resto da matéria após assistir a Taxi Driver.
No final do filme
aparentemente Travis realiza um ato heroico. Depois de fracassar em sua
tentativa de assassinato, o taxista invade o bordel onde Iris vive atirando em
todos ali dentro para salvá-la. Mesmo gravemente ferido, seu objetivo é
realizado. Os cafetões estão mortos e Iris é resgatada.
Na verdade, o ato
heroico de Travis tinha como objetivo maior saciar sua raiva em um ato suicida
do que de fato ser um herói para a sociedade. Ele inclusive tenta cometer
suicídio, mas sua arma já está sem balas. Apesar disso ele se torna um pouco essa
“chuva que lavaria das ruas toda essa escória”.
A sociedade se
apropria do tiroteio no prostibulo, transformando a fúria suicida de Travis em
um ato de heroísmo. Já na década de 70 Schrader já apontava que a sociedade é
propícia a encarar violência desnecessária como atos heroicos (o que até hoje
vemos presentes em discursos políticos nas redes sociais).
Até mesmo Betsy,
que rejeitara Travis volta a se encontrar com ele. E nesse momento vemos claramente
o desenvolvimento do personagem. Ele não trata Betsy como tratava antes. Ele
está mais seguro de si. Mais maduro.
Em Taxi Driver
Paul Schrader faz uma leitura do espírito humano diante da solidão. Além de
mostrar o quanto a solidão pode ser prejudicial ele também mostra que Travis
estava, em partes, certo sobre a sociedade. Ao consagrá-lo como herói, Schrader
também mostra que Travis não era o único que nutria um sentimento de repulsa
pela escória. Mas tudo isso já vinha sendo trabalhado entre os passageiros que Travis
levava em seu taxi. Talvez qualquer um da sociedade que se isole como Travis se
isolou pode ter um comportamento semelhante.
Taxi Driber é uma reflexão sobre a solidão, nos colocando na perspectiva de um homem solitário explorando a degradação de sua alma em primeira pessoa. É um filme pesado, conturbado, mas também um clássico dos anos 70 e considerado um dos melhores filmes de todos os tempos.
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