Esse mês estreou a nova série de comedia nacional
produzida pela Netflix em parceria com a produtora Los Bragas: “Samantha!”. Criada por Felipe Braga, produzida por Alice
Braga e Chuck Lorre e roteirizada por Roberto Vitorino, Patrícia Corso, Rafael
Lessa e Filipe Valerim, a série é a terceira produção brasileira a criada pelo
serviço de streaming e a primeira de comédia nacional da empresa.
Enredo
Samantha (Emanuelle Araújo) é uma ex-celebridade mirim da década de 80 que
ninguém mais lembra e segue tentando de tudo para retornar aos seus momentos de
glória na TV brasileira. Ao lado de seu ex-marido Dodói (Douglas Silva), um ex-jogador que
acabou de cumprir dez anos na cadeia e seus dois filhos, Cindy (Sabrina Nonato) e Brandon (Cauã Gonçalves) Samantha está disposta a usar qualquer meio para atrair novamente os holofotes
para ela.
Nostalgia da década de 80
A Netflix gosta de apostar em nostalgia. Basta olhar para
séries como “Stranger Things” e “Everything sucks” para percebermos isso. E “Samantha!”
acerta em cheio na nostalgia, principalmente por trabalhar com temas da nossa infância
brasileira. O programa de Samantha tinha tudo que os programas para o
público infantil tinham no passado, inclusive um maço de cigarro como mascote. Essas
referências nos fazem lembrar de nossa própria infância onde programas de TV
tinham até o mosquito da dengue no palco.
Em um determinado episódio tem uma clássica referência
quando os filhos de Samantha rodam o disco da mãe ao contrário e descobrem uma
mensagem subliminar incentivando pessoas a comprarem Ketchup. Em outro episódio
uma personagem abre a boneca da Samantha para descobrir que a faca dentro da
boneca era só um mito. Essas lendas urbanas fazem até hoje parte da cultura
brasileira e a série aproveitou bem a nostalgia e boatos de modo sutil e
divertido.
Os bastidores da TV e a morte da mídia tradicional
Outro ponto forte na série é a crítica que ela faz quanto à mídia
tradicional. Ela zomba dos bastidores da TV onde todos interpretam algum
personagem, até mesmo em Reality Shows. Na TV todos querem roubar o espaço um
do outro ou sempre estão se aproveitando uns dos outros em benefício próprio.
Em Samantha! isso é bem explícito. A série critica essa falsidade e hipocrisia descarada
que vemos no mundo das celebridades brasileiras (ou mundial).
Samantha é egoísta, manipuladora, possessiva e vive tentando
passar a perna nos outros para se destacar. Isso desde criança, como vemos em
momentos de flashbacks muito bem trabalhados. Ela mente, engana e finge ser
amiga apenas para manipular as pessoas ao seu redor para fazerem o que ela
quer. Os personagens fingem serem uma coisa nas câmeras e são outros por trás
dela.
A série também afirma veemente que a TV está morrendo com os
avanços das novas mídias. Isso é dito em diversos momentos na trama além de ser
mostrado no decorrer da história. Samantha agora grava comerciais que só serão
publicados na internet, faz menos sucesso que uma “Digital influencer” que não
tem talento nenhum. Assim, a série acaba zombando tanto da “morte da TV” como a
situação que se encontra as celebridades da internet. Além de se utilizar muito
bem do choque de gerações quando vemos, em diversos momentos, Samantha tendo
que se adaptar à cultura atual.
Falta de desenvolvimento das personagens
Talvez um dos pontos fracos da série seja a ausência firme
de um arco dos personagens ao longo dos episódios. Faltou momentos em que os
personagens, principalmente a protagonista, mudem suas crenças e convicções.
Esse arco acontece de fato, mas apenas nos dois últimos episódios, enquanto nos
outros o entretenimento parece se focar em como Samantha fará para sair por
cima na situação em que se mete.
Isso é uma tristeza já que tanto a protagonista como os
personagens parecem não apresentar desenvolvimento nem muita profundidade. Os
flashbacks, apesar de caírem muito bem na trama acabam sendo mal aproveitados
por conta disso. Foram diversas oportunidades perdidas em que os roteiristas
poderiam usar desses momentos para que Samantha aprenda uma lição nova a cada
episódio e mude suas atitudes como adulta.
Nesse sentido, o penúltimo episódio é, sem dúvidas o melhor,
onde ela se reencontra com seus antigos colegas de profissão para resolverem
suas mágoas uns com os outros. Esperamos que as próximas temporadas explorem
mais esse viés trazendo personagens que se transformem ao longo da trama ao
invés de permanecerem sempre com as mesmas mentalidades.
O importante é não deixar de acreditar
Sob esse lema, Samantha nunca deixou de acreditar e seguir
seu sonho de ser uma celebridade tal como era na década de 80. A trama é leve e
o humor sutil que garantem entretenimento para toda a família. A nostalgia é um
ponto forte que pode cativar os brasileiros que cresceram assistindo televisão na sua
infância. Os personagens são bem estereotipados,
mas de forma proposital de modo a enriquecer a trama. Alguns diálogos do núcleo infantil são um pouco engessados mas é algo que facilmente passa despercebido.
Apesar de ser uma série que mostra os bastidores do
entretenimento e uma mulher querendo voltar à fama, percebo que a série
trabalha mais na questão familiar. A família de Samantha, apesar de terem seus
problemas estão sempre unidos em todos os episódios, ou terminam unidos. Ela
fala muito sobre apoio familiar e união. Apesar de tudo, eles são uma família
unida e que se importam um com o outro.
Se o que procura é uma comédia leve com uma boa dose de
nostalgia Samantha! é o que você precisa. Os primeiros episódios podem demorar
um pouco para enganchar, mas sem dúvidas a Netflix acertou muito nessa produção
e vale a pena dar uma chance para essa série brasileira.
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