google.com, pub-0226795176202024, DIRECT, f08c47fec0942fa0 Reality Z | Análise do primeiro episódio (com spoilers) - Marcos Bossolon

quarta-feira, 10 de junho de 2020

Reality Z | Análise do primeiro episódio (com spoilers)


Estou assistindo à Reality Z, nova série nacional da Netflix e resolvi dar meu parecer do episódio 1:


Antes de continuar ja vou dizendo que esse texto contém spoilers!

A proposta é interessante. Sou muito fã de temática zumbi, então já tem meu total apoio. Apesar que acho q a proposta talvez fosse melhor trabalhada em forma de comédia, a Netflix apostou na ideia de um drama.

Quero começar com a atuação dos participantes do reality Show. Meu professor de teatro costumava dizer que teatro é uma convenção. Os atores estão representando os personagens e o público se permite ser enganado. Ou seja, quando assistimos a um filme, nós sabemos que os atores ali não são aqueles personagens, mas permitimos acreditar que são para fazer o entretenimento fluir. Contudo, se o ator não se entrega para ser o mais verossímil possível, a gente que está assistindo sente-se enganado.

E ao ver a atuação dos participantes do Reality show dentro da série, eu me senti enganado. Eu não via participantes do reality show. Eu via atores fingindo que são participantes. Os diálogos não ajudam também. Um esperando o outro terminar sua fala para depois ele falar. Se é um reality show em que supostamente são pessoas reais ali, eu quero ser convencido que são pessoas reais ali dentro. E quando pessoas reais conversam, mesmo em um reality show, elas não esperam o outro terminar sua frase bonitinho para falar o que tem para falar. E foi o que aconteceu. No núcleo do Reality show não convence que é um reality show.

Os efeitos estão satisfatórios. A maquiagem de zumbis também. Lembra um pouco filmes de zumbis mais antigos, o que pode ser positivo ou negativo para quem assiste. Por um lado agrada os gostos mais nostálgicos. Por outro pode desagradar quem espera uma produção no nível The Walking Dead.



Algumas transições de cenas são boas. Um exemplo está logo após aparecer o primeiro zumbi. Uma equipe da TV está dirigindo pela estrada quando veem um acidente. Eles param o carro e o motorista vai verificar o que houve. Ao dar a volta no veículo ele encontra um homem morto e uma mulher zumbi devorando o corpo. A mulher olha para o motorista e grita. Logo em seguida corta para uma multidão em frente à emissora de TV esperando o participante eliminado do Reality show sair. Isso é bom porque cria suspense e tensão. A gente acabou de ver um zumbi e logo em seguida vê uma multidão amontoada nas portas da emissora. De cara a gente já antecipa e sente a tensão: Imagina tudo isso de zumbis. A transição da cena cria a tensão no espectador.


O roteiro trabalha até que bem o subtexto em alguns momentos. Em outros coloca falas desnecessárias. Um exemplo positivo acontece quando um deputado, no meio do caos solicita a uma viatura da polícia que o leve em segurança. Os policiais recusam, o deputado mostra a maleta cheia de dinheiro, os policiais ficam impressionados, acenam e o deputado e a assessora entram no carro. Assim que entram, a assessora olha para trás, vê uma mulher negra, faz um gesto para o deputado que, ao ver a mulher negra também faz cara de nojo.
Tudo isso é subtexto bem trabalhado. Ninguém precisa falar nada. A gente entende. A gente entende que o deputado estava oferecendo o dinheiro. A reação dos policiais já mostra que eles aceitaram o suborno. A reação da assessora e do deputado perante a mulher do banco de trás já denuncia que eles são racistas. Ninguém precisou dizer “Eu te dou esse dinheiro todo” ou “Olha tem uma negra no banco de trás”. Tudo isso está no subtexto.



Um exemplo ruim acontece logo na cena seguinte. Quando a equipe da TV está dirigindo o carro e o motorista (que em algumas cenas atrás foi ver um acidente e encontrou um zumbi) está sangrando. A mulher no banco com ele grita “Ela mordeu ele!”. Isso é um exemplo de diálogo desnecessário que poderia ter um subtexto. A gente já tinha visto a cena dele encontrando uma zumbi, logo, nós já deduzimos que o sangue no pescoço do motorista é devido à mordida dela.
Nesse caso, ao falar “Ela mordeu ele” o roteiro está usando um personagem para “explicar” ao publico o que aconteceu. E isso, além de demonstrar insegurança do roteirista, passa a impressão que o público é burro e não entendeu uma coisa obvia.


Os personagens do Brandão (Guilherme Weber) e Divina (Sabrina sato) são os mais unidimensionais até agora. Você percebe de cara que eles são egoístas e só pensam no dinheiro e fama. E eles agem como egoístas que só pensam no dinheiro e fama. Há um momento na atuação de Brandão que foi difícil assistir. Esse momento é quando ele está fugindo de um zumbi e encontra um cadeirante no banheiro. Ele coloca o cadeirante entre ele e o zumbi. Ok... isso condiz com seu personagem egoísta. Única informação “nova” é que ele é tão egoísta que sacrifica a própria equipe e não tem pena nem de um cadeirante na hora de sobreviver. O que não precisava era o personagem ficar dizendo “Pega ele! Morde ele!”. De novo, diálogo desnecessário.
Sinceramente detestei a atuação da Sabrina Sato que só foi boa como apresentadora, mas na hora de mostrar a personagem fora das câmeras... Não se entregou. Quando ela foi mordida só faltou dizer “Morri” antes de tombar para o lado com uma corporeidade que não pareceu de alguém que morrendo.



Há alguns momentos que salva na questão do terror. Um desses momentos acontece no dia seguinte após o surto em que os participantes isolados do reality show estão tomando café da manhã e nós, o público, vemos o outro lado do vidro cheio de sangue. Outro momento de tensão. A gente sabe que ta todo mundo morto do outro lado, mas as pessoas dentro do reality não conseguem saber por que eles não conseguem ver através do vidro opaco.

O arco da nina (Ana Hartmann) é interessante e move a trama. Ela tem um objetivo claro: Sair da emissora. Ela tenta, falha, volta para dentro. Seu arco dramático do inicio da série (relacionamento a três e vídeo vazado na internet) poderia ser melhor explorado, mas serviu para mostrar um pouco do caráter superficial da personagem: Ela gosta do que fez, pediu para filmar, mas não gosta de ter o vídeo exposto.

Contudo, a maneira como os participantes isolados percebem que tem algo errado é convincente. Eles acordam, percebem que não houve recado mas ignoram. “Devem estar respeitando a ressaca”. Então um participante decide sair e não é atendido. Uma outra passa meia hora sem o microfone e não é penalizada. Só então eles percebem que tem algo errado. Estão ali a dois meses e isso não é normal. Inicialmente eles consideram que faz parte do programa, ao invés de presumir tudo de cara.


Essas duas tramas se juntam no final do episódio, quando Nina, fugindo dos zumbis, entra no lugar onde os participantes estão confinados. E a primeira reação deles é pensar que ela é uma nova participante. Por um lado é legal que eles não tenham percebido de imediato. Mas por outro, não seria comum as pessoas reagirem assim quando uma mulher ensanguentada com uma tesoura gigante nas mãos entra num local confinado. A primeira coisa que qualquer um pensaria é simples: Essa louca matou geral la fora e veio aqui matar a gente também.




Eu diminuiria a cena final, cortando logo após a protagonista se encontrar com os participantes do reality show. A parte em que eles acham que ela é uma nova participante poderia ter deixado para o episódio seguinte. Ia combinar mais com a série e seria um final mais dramático. Ao colocar os participantes comemorando como alienados, quebra a tensão que o episódio estava construindo na sequencia final.

A proposta da série é legal, mas podia melhorar. Com exceção da protagonista e de algum outro membro do elenco, as atuações de quase todos podia melhorar, ou o diretor podia exigir mais dos atores. Falta subtexto no roteiro e alguns diálogos são desnecessários. Tirando uma ou outra situação, boa parte dos momentos do episódio 1 é verossímil. Um ponto positivo é que a trama soube criar tensão no expectador.

Olhe para essa imagem e me diga se isso parece um participante de um reality Show no estilo "BBB".


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