Nos últimos dias uma musica tem gerado uma grande revolta pelas redes sociais.
A musica “Surubinha de leve” do MC Diguinho foi lançada no ano passado, mas
aparentemente chegou a conhecimento da massa há pouco tempo. Alguns arriscam
dizer que esta musica pode ser o hit do carnaval de 2018.
McDiguinho. Autor da musica "Surubinha de leve" |
Em
sua música, o Mc Diguinho faz uma explícita apologia ao estupro ao dizer que
“taca bebida, depois taca a pica e abandona na rua”, a respeito de suposta
“piranhas” que seus convidados levariam à sua festa. Segundo a Bilboard a
musica é uma das 50 musicas brasileira mais tocadas no Spotfy atualmente e
antes de ser removida do youtube o videoclipe de “Surubinha de leve” já passava
dos 12 milhões de visualizações.
Este não é um
caso isolado sobre o assunto. Assim como afirma um artigo do Vice Brasil, outras
músicas com “baile de favela” do MC João e DJ R7 e “covardia” do DJ Perera também já foram alvo de criticas por apologia ao
estupro. Cabe lembrar também da atitude de MC Biel que assediou uma repórter
dizendo que se transasse com ela “a quebraria no meio”.
Mc Biel, que teve sua carreira destruída após assediar uma jornalista |
Mas
o funk não é o único estilo de música em que temas como esse estão presentes.
Na musica ‘Vidinha de balada” os cantores Henrique e Juliano parecem obrigar
uma garota a namorar e se casar, como se ela não tivesse outra escolha, como na
primeira estrofe em que dizem “To a fim e se não quiser cê vai ter que ficar”.
Um pouco adiante, no refrão eles vão além dizendo que a garota “vai namorar
comigo sim” ou se ela reclamar “vai casar também”. Musicas como essas que
parecem refletir uma sociedade de séculos passados tocam atualmente nas rádios
entre as primeiras colocadas.
Em seu canal, Canal Púrpura, Maricugn fala sobre a música “faixa amarela”, uma das mais
clássicas e populares do gênero, mostrando como a música incentiva a violência contra a mulher.
Nos
enganamos também ao pensar que isso é algo exclusivo de músicas nacionais. Em
2013, o rapper Rick Ross faz apologia ao estupro. Em sua música U.O.E.N.O. diz que coloca drogas no
champanhe de uma mulher sem que ela saiba, depois afirma que a leva para casa e
se satisfaz enquanto ela nem faz ideia.
Trecho da musica do Rapper Rick Ross em que faz apologia ao estupro |
Mas
o que as músicas tem a dizer sobre a nossa sociedade e no que elas afetam em
nossos comportamentos? Por um lado as musicas refletem o que está presente no
íntimo da sociedade. O mais preocupante no fato dessas musicas fazerem tanto
sucesso é que existem um imenso número de pessoas que concordam direta ou
indiretamente com o conteúdo da música, mesmo que essas pessoas nunca de fato
estuprariam alguém. Não é de hoje que se
discute se fazer sexo com uma pessoa bêbada é estupro (sim, é estupro e moralmente
errado). A famosa frase “cu de bêbado não tem dono” acentua essa cultura do estupro.
Inclusive, há algumas edições passadas do reality Show “Big Brother Brasil”
presenciamos uma cena em que um dos participantes faz sexo com outra enquanto esta dorme.
Se
por um lado, as músicas refletem o intimo do ser humano, por outro também
influencia-nos. Assim como Jessica A. Weigsding e Carmem P Barbosa afirmam e
seu artigo “A influência da música no comportamento humano”, muitos outros
estudos confirmam que a musica estimula a “afetividade, controle de impulsos,
emoções e motivação” (WEIGSDING, Jessica; BARBOSA, Carmem; P2). Elas não são as únicas. Em seu artigo publicado em 2006 Peter Fischer e Tobias Greitemeyer afirmam que músicas misóginas tem um grande papel no desenvolvimento de atitudes agressivas dos homens com o sexo oposto.
Pessoalmente,
já presenciei isso na prática quando um amigo parou de ouvir algumas musicas
que o incentivavam a beber, trocando por um estilo diferente. Em poucas
semanas, a quantidade de bebida consumida por esse amigo teve uma queda brusca
e até mesmo suas atitudes e assuntos mudaram. Não é a toa que muitas musicas
cuja letra visa ostentar riqueza, festa, bebidas e romance fazem muito sucesso,
pois isso é o que grande parte da sociedade busca e quanto mais ouvem, mais são
influenciados a buscarem.
Do
mesmo modo, houve momentos da minha vida em que consumir musicas depressivas em
excesso começou a me deixar desanimado ao longo do dia enquanto consumir
musicas mais alegres e positivas me deixa bem mais otimista e alegre.
Por
fim, julgo necessário afirmar que esse tipo negativo de letras não estão
presentes apenas nas músicas mais populares, mas em todo tipo de mídia
encontramos mensagens como essas. O único fato de darmos mais atenção ao funk é
simplesmente por esses estilos serem tão populares que alcançam uma massa maior
que os demais. Também cabe ressaltar que esses tipos de músicas não representam
estes mesmos estilos e nem devem ser tomadas como exemplo a fim de criticar
movimentos populares da música brasileira (e internacional), pois existem
diversas musicas dos mesmos estilos com mensagens diferentes.
Geralmente
ouvimos e reproduzimos diversas músicas sem nem ao menos refletirmos sobre o
que a letra fala. Mas quando uma ou mais dessas musicas se torna uma das mais
populares do Brasil (ou do mundo) é um sinal de que precisamos ser mais
críticos quanto à musica que escutamos ou as ideias que compartilhamos.
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